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5 de setembro de 2011

Quando meu sangue subiu e o de outro derramou

Por Diego ou Victor ou Júnior


Algumas horas antes de meu pai morrer de câncer de estômago, ele me chamou e disse:
__ Filho, a vida é uma bosta. Você sabe o quanto lutei na vida, o quanto trabalhei. Passei fome durante muito tempo e por isso estou aqui, morrendo de câncer no estômago.
Era difícil acreditar que aquele que, antes, era forte, alto, resistente ao extremo estava agora magro, pálido, definhando. Eu tinha, nessa época, 16 anos. Continuou:
__ Filho, por tudo que passei te peço apenas uma coisa: seja homem. Sempre. Você pode até virar veado, aí é com você. Mas pelo amor de Deus, seja homem. Encare a vida de frente, sem frescurites. Consiga tudo que eu não consegui. Não aceite ninguém te passar pra trás. Não aceite ninguém rir de você. Como te disse, se você virar veado, homossexual
, sei lá como fala isso, mesmo assim continue esse homem que você é. Isso me orgulha. Seja homem.
Embora possa parecer confusa a sua fala, entendi o que ele quis me dizer. (Foi a partir desse dia que resolvi fazer várias das coisas que, inclusive, relato e ainda devo relatar aqui. Explicarei melhor depois).
Poucas horas depois, em casa, receberia a notícia de que ele tinha morrido.
É exatamente nisso que eu pensava quando passava por uma praça, com dois amigos meus do jiu jtsu, e olhava um grupinho de uns seis, sete carinhas afeminados. Um deles me apontava o dedo
. Os outros olhavam e riam, com um certo cinismo e deboche. Reconheci o que me apontava o dedo. Era o cara com quem tive minha segunda relação homossexual (Leia AQUI). Aquela situação me incomodava. O meu sangue subia. O desgraçado deve que tava fofocando pros seus amigos veadinhos que tinha metido comigo. Aqui, meus amigos conversavam. Não viam que lá na frente, a alguns metros de distância, o grupinho afeminado ria de mim. Falei pros meus amigos:
__ Vem aqui comigo.
__ Ãn? Onde, fii?
__ Vem cá, porra
.
Como eles sabiam que eu era mais forte e sempre ganhava nos nossos treinos, decidiram me acompanhar.
Me direcionei até o grupo que ria de mim. Cheguei neles, mais especificamente no carinha fofoqueiro, e perguntei:
__ Lembra de mim?
E ele:
__ Claro, claro. Como não?... – e olhava orgulhoso pros seus amigos borboletas
, que sorriam emborboletados.
Por outro lado, meus amigos não entendiam nada do que tava acontecendo. Só ficavam olhando, com cara de bobos.
__ O que você tava falando de mim aí? – e antes de deixar ele responder, dei um soco
violentíssimo em seu nariz, o que fez com que ele caísse no chão, sangrando. Os seus amigos, entre estupefatos e sem saber o que fazer, começaram a dar gritinhos. Os meus dois amigos, mesmo não tendo a mínima idéia do que acontecia, se prepararam também pra dar porrada em alguém. Mas não precisou. Pra mim bastava ver aquele idiota no chão, o nariz quebrado, chorando igual uma moça. Vendo aquela cena, a imagem do meu pai me veio à mente.
Virei de costas. E chamei os meus amigos:
__ Vamos?...
E um deles:
__ Uai, vamos, né.


>>> Este texto faz parte da série 100 Maneiras de Mudar COMPLETAMENTE Sua Vida, de autoria de Diego ou Victor ou Júnior, publicada no blog 100 Maneiras.
>>> Continua na próxima segunda-feira.

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